12/02/2025

Suspeito que tudo seja luz



Quando a luz do sol permeia uma vegetação, me concentro no desenho que se cria nas paredes ou no chão. Gosto de como as ondas de vento criam uma certa animação nas folhagens, das silhuetas esmaecidas dançando de um jeito preguiçoso no concreto, acenando e variando de posição como se eu estivesse num lugar muito limiar entre sonho e lucidez.

Um tapete de brilhos esburacados embaixo dos meus pés, abrindo minha pele. O encontro de diferentes elementos naturais - brisa, copa e posição solar - escolhendo quais trechos do mundo revelar. Um recorte luminoso das superfícies - de longe, constelações, ou seriam portais?

Tiro um tempo toda manhã que chego na escola em que dou aula para observar o comportamento dessas centelhas no ambiente. Antes que as crianças cheguem e a beleza sutil seja tomada por animosidades selvagens, antes que os lampejos (ariscos como são) fujam.

Comecei a prestar ainda mais atenção nisso depois que assisti ao filme Perfect Days e fiquei tocado pela relação do Hirayama com esses fantasmas brilhantes. O personagem se envolve com as árvores, com o tempo e o momento que passa. Diante de tantas impermanências que pesam, vale a pena se permitir ser fisgado por essa. Sente-se debaixo de uma árvore pela manhã e seja atravessado pelos raios.

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